A cultura do Jeitinho Brasileiro
O brasileiro é conhecido em várias partes do mundo por “dar um jeitinho para tudo”, e isso envolve desde sair de uma situação complicada de uma forma surpreendente, até buscar uma maneira de se sobressair perante os demais, mesmo que não seja justamente. De uma forma ou de outra, podemos dizer que é algo integrante da cultura do país.
O psicólogo André Rabelo, que é mestre e doutor na área, diz que “o jeitinho pode ser entendido como um tipo de ação visando obter benefício próprio ou a resolução de um problema prático, fazendo uso de criatividade, cordialidade, engano e outros processos sociais”. Ele cita que, no artigo “Personality and Social Psychology Bulletin”, pesquisadores identificaram três principais dimensões, no jeitinho: a criatividade, a corrupção e a quebra de normas sociais.
A primeira dimensão, criatividade, está dentro do “Jeito brasileiro” de ser, que enfrenta as situações com bom humor, afetividade e criatividade, buscando meios de, com o que tem, atingir o êxito em diversas situações. Como aponta Luís Roberto Barroso, é “um meio de enfrentar as adversidades da vida. Está muitas vezes ligado à sobrevivência diante das desigualdades sociais, das deficiências dos serviços públicos e das complexidades legislativas e burocráticas”. Pode-se dizer que é o lado positivo, pois permite, muitas vezes, transformar o meio, trazendo soluções surpreendentes para problemas persistentes. Em vários casos, é assim que surgem empreendedores, que podem ser por oportunidade ou por necessidade, ou até mesmo, a junção das duas situações, que é quando a necessidade encontra a oportunidade.
Na outra “face da moeda”, encontram-se as outras duas dimensões; a primeira, a corrupção, é apontada por quase todos, como algo que atrapalha o desenvolvimento das organizações brasileiras. Ela acontece quando há a resolução de problemas através de meios ilícitos, seja na política, como a frequente troca de “favores”, ou nas empresas privadas, com compra de informações, por exemplo.
A outra dimensão do lado negativo, mas que é aceita por muitos, desde que não lhe prejudique, ou melhor, quando lhe favorece, é a quebra de normas sociais, que “representa o uso do jeitinho para burlar normas sociais que dificultam a resolução de um problema”, como descreve Rabelo. Barroso diz que “ela envolve a pessoalização das relações, para o fim de criar regras particulares para si, flexibilizando ou quebrando normas que deveriam se aplicar a todos. Esse pacote negativo inclui o improviso, a colocação do sentimento pessoal ou das relações pessoais acima do dever”.
Ainda completa, dizendo que “o improviso se traduz na incapacidade de planejar, de cumprir prazos e, em última análise, de cumprir a palavra. Vive-se aqui a crença equivocada de que tudo se ajeitará na última hora, com um sorriso, um gatilho e a atribuição de culpa a alguma fatalidade. O sentimento pessoal acima do dever se manifesta no favorecimento dos parentes e dos amigos, no compadrio, na troca de favores, o toma lá dá cá”.
A diferença entre as duas dimensões está, basicamente, na aceitação da segunda, por parte de muitos, pois ambas envolvem ações que vão contra o que é justo, a moral, a ética e, em certos casos, contra aquilo que é legal, o que acaba se transformando em corrupção, ou seja, as duas dimensões estão interligadas. André Rabelo diz que a prática do jeitinho leva, “ao longo do tempo, a julgar ações como estacionar em local proibido ou furar uma fila como menos erradas ou merecedoras de punição do que as ações de políticos corruptos, por exemplo, obtendo assim uma 'justificativa' para ações individuais que seriam muito mais amenas”.
“Essa facilidade para quebrar regras sociais, em um passo, se transforma em violação direta e aberta da lei. E aí vêm as pequenas fraudes, como o atestado médico falso, a consulta com recibo ou sem recibo e a nota superfaturada para aumentar o reembolso”, diz Barroso. Ou seja, através da aceitação de “pequenas” quebras de normas sociais, acabam surgindo as “pequenas” corrupções, que, com o tempo, podem alcançar proporções gigantescas.
Ir contra aquilo que é certo, independentemente do grau, é errado da mesma forma, mesmo que não seja percebido e venha a ser aceito. E mesmo que praticado por muito, não deve ser amenizado, mas evitada sua prática. Quanto mais combatido, melhor será a vida em sociedade, e, consequentemente, nas organizações que a compõem.
Autor: Jair José M. Fernandes
Graduando em Administração na Universidade Estadual Vale do Acaraú
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